Olhares sócio-antropológicos sobre Filmes, textos, artigos, livros, documentários,..

Amo cinema e vejo nos filmes inúmeras oportunidades de refletirmos sobre a vida, sobre temas diversos que nos tocam de maneiras diferentes, a partir de nossas grades de leitura e nossas vivências.
Assim, faremos neste primeiro momento reflexões sobre filmes, documentários que assisti e partilhei com meus colegas de sala (educandos) e outros que assisti em momentos de lazer criativo e produtivo. E, em um segundo momento farei comentários de livros, textos, artigos, enfim, o que li e como apreendi o lido, e os frutos de minha vivência, do meu dia-a-dia, do meu vivido também. Tudo isto será partilhado aqui com cada um de vocês!!

Boa Leitura!!

domingo, 6 de novembro de 2011

Intimidade ou não intimidade, o que desejo ter?

Já no século XVIII, conforme Louis Dumont, as pessoas começaram a ficar cada vez mais ensimesmadas, retraídas, preferindo a não intimidade, posto que o que desejavam era tudo cada vez mais para si. Um egoísmo exacerbado denominado individualismo. 
        Individualismo que separa as pessoas, colocando-as para se relacionarem não como pessoas, mas como pessoas e objetos. Coisificar o outro, ver o outro como mero objeto de prazer momentâneo ou duradouro, mas apenas prazer... Fez com que estas mesmas pessoas jamais se deleitassem com o prazer da intimidade.
    Séculos XIX e XX vem com duas abordagens o do não a intimidade, e o da transformação desta no olhar de Anthony Giddens, que chama cada uma das pessoas a repensarem suas relações, e, ao mesmo tempo compreender as mudanças na intimidade, no amor, na sexualidade, no erotismo.
      Giddens diz, no seu livro 'A transformação da intimidade. Sexualidade, amor e erotismo nas sociedades contemporâneas', que existe uma categoria chamada de 'relacionamento puro'; sendo que pureza aqui não significa ingenuidade, inocência, mas sim o retirarmos as amarras dos estereótipos acerca do ser amado como deus, ou deusa, como super herói ou mulher maravilha, e começarem a ver um ao outro como são, ou estão se tornando, seres humanos plenos com qualidades e defeitos. 
         O olhar o outro como ser humano pleno, dar mais segurança, conforto a ambos por saberem que não precisam mascarar o que não são e, por isso, irão se permitir amar e ser amado, de maneira tranquila, sem medos, receios de mostrar-se e ser rejeitado ou rejeitada.
         É interessante falar sobre a temática em questão, porque com o século XX e XXI, veio toda a enfase na contemporaneidade, na rapidez, na não-intimidade, na fluidez das emoções, na volatilidade dos sentimentos, enfim, na liquidez das relações. Bauman, foi um dos autores que mergulhando neste universo líquido escreveu a Modernidade líquida, o Medo liquido, o Amor liquido, o tempo liquido, enfim... Um retrato das relações que enfatizam a não intimidade.
           Contudo, o pensar no relacionamento puro, em que o casal caminhará lado a lado, partilhando  suas vidas, sonhos, tristezas e alegrias trás esperanças de que em um mundo tão grande como o nosso, ainda existem pessoas que desejam se envolver, sair juntas, conversar, trocar idéias, partilhar conquistas e se terem apoio mútuo  nas dificuldades, enfim, pessoas que queiram a intimidade, queiram permitir-se viver plenamente um relacionamento, colhendo frutos magníficos que será e que é o poder chamar cada um ao outro de companheiro, companheira, amigo, amiga, amor, tudo!! Tudo!!! Como já disse Fernando Pessoa: "Para ser inteiro, sê todo. Nada teu exagera ou exclui. Põe tudo o que tem no mínimo que fazes, assim em cada lago, a lua brilha, porque alta vive!!"
       Permitir-se e fazer com que dê certo o relacionamento, desejarem juntos que dê certo é MÁGICO!! Colocar-se de corpo e alma, plenamente!!! É um desafio grande, mas quem se arrisca, pode lograr êxito e conseguir um parceiro ou parceira que romperam, certamente, as barreiras do tempo e do espaço, ressaltando que a intimidade é um encontro de almas, expresso e manifesto no corpo, templo magnífico do seu Eu mais profundo, do que És!!
            E, então, resta apenas saber o que cada um quer de si: "Intimidade ou não intimidade, o que desejo ter? E você o que deseja, quer?" (Marcia Adriana L. de Oliveira)
                       

2 comentários:

  1. Temática boa e interessante, principalmente nos dias de hoje. Vez por outra me pego refletindo ou conversando com alguem sobre o assunto. O que acho mais intrigante é que, nos meus pensamentos sempre chego à conclusão que a "liquidez das relações" cresce à medida em que o sistema capitalista avança na nossa sociedade. Se relembrar-mos e analisar-mos as etapas deste processo: o capitalismo comercial, industrial, financeiro e sua mais nova faceta o informacional, podemos perceber que, à medida que avançamos nesse sistema econômico, ficamos cada vez mais individualistas, coisificados, "umbigocêntricos" ou seja aumentamos mais ainda a "liquidez das relações".

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  2. Marcia Adriana disse... Victor, concordo com você quanto ao termos a liquidez nas relações, e, muitas vezes, observarmos que as pessoas vão ficando "mais individualistas e umbigocêntricas". Contudo, também vislumbro luzes, quando percebo que mesmo em meio a fragilidade e superficialidade nas relações, ainda encontramos pessoas que são pensam somente em si, que desejam se envolver, interagir, trocar idéias, conversar face a face,... Usam as redes de relacionamentos como instrumentos de contatos, mas também proporcionam os encontros reais reais, e não ficam imersos apenas no real virtual.
    Enfim, acredito que hoje, 2011, temos inúmeras possibilidades de contatos propiciados pelo acarbouço tecnológico oriundo da revolução industrial e do nosso sistema capitalista, que não é mais o "selvagem" pelos direitos que vão sendo adquiridos, pela consciência dos trabalhadores de seus direitos e deveres, fazendo ir desaparecendo aos poucos os vestígios do sistema colonial, que proporcionava o olhar coisificado do outro.
    Vejo luzes quando vejo namorados, pessoas conversando, vejo as relações familiais e também de amizade e partilhas. Vejo mudanças quando os olhares são ampliados para o respeito a diversidade, as diferenças. Respeito que não significa aceitação, mas flexibilização frente ao diferente e o que ele suscita e cada encontro. E, principalmente, vejo luzes quando encontro famílias que são familias, conversando , trocando, ampliando sonhos, desejos, conhecimentos, reafirmando identidades e olhares sobre si, o outro, o mundo...
    Sabe, durante muito e muito tempo me escondi de relacionamentos por medo do envolvimento, da intimidade... Mas hoje, a vida e os anos vão ensinando o quanto é maravilhoso e fascinante permitir-se o diálogo, o envolvimento, NOSSA!! É mágico!! Por isto acredite e permita-se, dentro dos seus limites culturais vivenciar o encontro, a união, a vida!!
    Obrigada por suas reflexões, e, principalmente, pelas magníficas trocas que envolveram este momento dialógico!! Obrigada mesmo!! Leia os outros textos e diga-me o que achou, foi muito interessante o seu olhar!!
    Paz e Bem!!!

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