Olhares sócio-antropológicos sobre Filmes, textos, artigos, livros, documentários,..

Amo cinema e vejo nos filmes inúmeras oportunidades de refletirmos sobre a vida, sobre temas diversos que nos tocam de maneiras diferentes, a partir de nossas grades de leitura e nossas vivências.
Assim, faremos neste primeiro momento reflexões sobre filmes, documentários que assisti e partilhei com meus colegas de sala (educandos) e outros que assisti em momentos de lazer criativo e produtivo. E, em um segundo momento farei comentários de livros, textos, artigos, enfim, o que li e como apreendi o lido, e os frutos de minha vivência, do meu dia-a-dia, do meu vivido também. Tudo isto será partilhado aqui com cada um de vocês!!

Boa Leitura!!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

FLOR DO DESERTO: REFLEXÕES ANTROPOLÓGICAS E BIOÉTICAS

        Sabem, hoje assisti ao filme FLOR DO DESERTO, que retrata a biografia de Warris, uma somáliana que rompendo com a cultura pré-estabelecida, resolve dizer não a um casamento arranjado e, desejando outra vida para seu irmão, para si, ela foje. Neste interim, ela passa por muitas dificuldades, mas consegue vencer, através da Fé, do trabalho, da dignidade e honra e dos amigos que fez nesta trajetória. 
         Mas, o que me chamou a atenção no filme, foi quando ela relatou a circuncisão ao qual foi submetida aos três anos de idade... Narrando que aquele momento foi o  que mudou a sua vida. Ela explica que o ritual é praticado por considerarem o que está entre as pernas das mulheres algo impuro, e que, como prova de virgindade e honra, este ritual deve ser realizado... 
            Contudo, no fina do filmel, ela diz que as irmãs não resistiram, como inúmeras mulheres africanas que morrem pela prática realizada. E, clama a todos uma mudança no conceito de mulher, rever o significado de ser mulher, para que esta não seja vista como algo impuro, ruim, mas alguém que pode sim, contribuir com o seu país, trabalhar, estudar, enfim, construir uma vida e engrandecer, pelo trabalho e conhecimento, o lugar de onde é, o local onde está, sempre com dignidade, honra, liberdade. 
          Para ela todas as mulheres eram circuncidadas, até compreender que não era assim, que existem outras culturas que não fazem da mesma maneira, e a partir da consciência da diferença, pois ninguém questiona o igual; ela escolhe, mesmo sabendo que poderia ser rejeitada pelo seu grupo, falar em nome das crianças que não podem. Aqui vemos uma questão Bioética, pois como interferir na cultura do grupo? A bioética é o respeito a todos os seres vivos, o respeito a diversidade, e o diálogo respeitoso nesta diversidade. Então, como lidar com esta questão?
            E, aqui, entra a Antropologia, ao meu ver, pois, realmente, não podemos entrar no grupo e tentar mudá-lo, tomando como padrão a nossa cultura, pois estariamos sendo etnocêntricos. Mas, ao mesmo tempo, quando não é o olhar do de fora que diz que isto é errado, mas o de dentro, o nativo que percebe que existem outras maneiras de ser, então, a escolha da mudança, vem com toda força, de maneira consciente, pois, ela poderia conquistar seu lugar ao sol e calar-se, mas não! Ela optou, mesmo sabendo da possível rejeição do seu grupo, falar pelas crianças que não podem, solicitar mudanças culturais no conceito do Ser Mulher, pois, através da mudança no conceito, muda-se a prática da circuncisão. Logo, isto é possível!!
               A mudança somente acontece, conforme Hoebel e Frost, se há necessidade de mudança. Ninguém muda, absolutamente nada, se este nada não o incomodar, não tocar bastante a ponto de promover uma mudança. Então, a cultura não é herdada geneticamente e nem é imutável, conforme Durkheim, "não é da natureza do conceito mudar, mas muda quando há necessidade". Assim, a necessidade de mudança foi manifesta por um membro do grupo, resta saber se o grupo se sensibilizou para começar a modificar a prática... Mas, acredito que "uma andorinha só não faz verão, mas anuncia sempre que o mesmo está chegando", o que vai tornando mais forte a idéia de mudança!!
                Paz e Bem
                                                      (Marcia Adriana Lima de Oliveira)
               


 

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