Olhares sócio-antropológicos sobre Filmes, textos, artigos, livros, documentários,..

Amo cinema e vejo nos filmes inúmeras oportunidades de refletirmos sobre a vida, sobre temas diversos que nos tocam de maneiras diferentes, a partir de nossas grades de leitura e nossas vivências.
Assim, faremos neste primeiro momento reflexões sobre filmes, documentários que assisti e partilhei com meus colegas de sala (educandos) e outros que assisti em momentos de lazer criativo e produtivo. E, em um segundo momento farei comentários de livros, textos, artigos, enfim, o que li e como apreendi o lido, e os frutos de minha vivência, do meu dia-a-dia, do meu vivido também. Tudo isto será partilhado aqui com cada um de vocês!!

Boa Leitura!!

sábado, 10 de setembro de 2011

Coisas de menino e coisas de menina....


           Ao chegar em um aniversário de uma princesinha, presenciei uma cena muito interessante que é uma das linhas de pesquisa no campo da antropologia e da sociologia, a questão de gênero. O fato foi que a princesinha foi presentada com a casa de brinquedos da Polly, e ela logo quis abrir, montar, vê-la fora da caixa. Então, a que a presenteou, pôs- se abrir e montar, e, meu filho, prontamente, estava ao lado, e pegou as peças para ajudar na montagem, como se fosse um quebra-cabeça. Neste interim, o filho da que a presenteou passou e perguntei:" Você não vai ajudar a montar também?" E, ele, prontamente, me respondeu:"Isto não é coisa para homem". Então, falei:"e você não terá no futuro uma casa? E não participará nas atividades de sua casa?". E, ele continuando o diálogo disse:"Não, vou ser jogador de futebol e não terei tempo para isto".
             Com estas questões, outras vieram e, na medida, do possível, fomos tentando sucitar reflexões e olhares para o que aquele menino não havia pensado ainda... E, mais que nunca percebi uma continuidade, na postura do garoto, que reproduz valores que lhe foi passado pelos seus pais, reafirmando a supramacia de gênero, na qual a rua fica para o homem e a casa para a mulher, e a mudança, na postura de meu filho, que não se incomoda em montar uma casa de boneca para sua amiga, ou até mesmo brincar, posto que em nossa casa, trabalhamos a cooperação, os cuidados conjuntos com a casa, arrumar, manter arrumado, organizar as coisas e, ele cooperar para esta organização, pois, um dia quando ele precisar, saberá fazer e contribuirá com sua companheira. E, com certeza estes cuidados jamais farão dele menos homem, mas sim farão dele um homem que também cuida, ajuda, coopera sem problema.
                Esta situação me remeteu as alterações nos brinquedos em decorrência das modificações nas relações de gênero, afinal, o brincar, o lúdico, a brincadeira é uma ponte no processo de socialização do grupo, que faz com que a criança aproxime-se do universo adulto. Por exemplo, na minha infância, as bonecas eram princesas, mães... Hoje, 2011, as bonecas são dentistas, advogadas, professoras, médicas, enfim, tem uma profissão, uma graduação. Elas dirigem, tem carros, pista de corrida, são pilotas, enfim, refletem as nossas conquistas como mulheres que passaram por várias situações como o desquite na década de 60, o divórcio  em 1977/78, a alteração no conceito de família na Constituição de 88, que dentre outros feitos garantiu a nossa cidadania, dizendo que "homens e mulheres tem os mesmos direitos tanto dentro quanto fora do âmbito doméstico", as mudanças quanto aos casamentos que antes da década de 80 eram mais cedos 17 a 20 anos no máximo, e hoje vão sendo realizados a partir dos 30 anos até o infinito da idade.
                   Quanto aos homens também observamos as mudanças, pois, tem-se que com o divórcio, começam a surgir as famílias monoparentais, em que alguns ficam com os filhos e aprenderam a cuidar, a olhar para o âmbito doméstico, ir as compras, trocar fraldas, fazerem cursos de culinária, participar das reuniões de pais, acompanhar os filhos na escola, enfim, engajarem-se no universo que era considerado apenas feminino, o que ampliou o olhar e a dimensão de homem.
                     Neste sentido, tanto homens quanto mulheres são diferentes quanto aos hormônios, a genitália (SALVE POR ISSO!!!), mas iguais em direitos e deveres, ninguém caminhando na frente ou atrás, exceto se a cultura do grupo assim o impuser, mas caminhando lado a lado.
                       Assim, percebe-se que as questões de gênero, continuam a nortear as nossas relações sociais, interpessoais, sejam dentro ou fora do âmbito familiar, sendo reproduzidas valorizando a hieraquia de gêneros citada por Richard Parker em seu livro, Corpos, prazeres e paixões, ou valorizando o relacionamento puro (companheirismo) presente no pensamento de Anthony Giddens no seu livro A transformação da Intimidade; sexualidade, amor e erotismo nas sociedades contemporâneas. Mostrando aqui, o que pesquisei na graduação e no mestrado as continuidades e mudanças nas relações familiais, a partir dos olhares que temos e repassamos aos nossos filhos acerca do que consideramos coisa de menino e coisa de menina.
                                                                  (Marcia Adriana Lima de Oliveira)
                     
                     

6 comentários:

  1. Olá professora,sou aluna do 1° bloco de
    Pedagogia turno manhã no Campus Clóvis Moura UESPI.Queria dizer que gostei muito do seu texto,tivemos uma aula ontem na qual você abordou alguns exemplos citados aqui.Vejo que, realmente hoje em dia ainda prevalece muito essa questão de gênero,de que a rua fica para o homem e a casa para a mulher,mas apesar dos pesares,muitas coisas mudaram em relação a isso,hoje a mulher tem os mesmos direitos e deveres q os homens tem, e no caso das crianças eu achei muito interessante que vc disse q seu filho se prontificou em ajudar a garotinha montar a casinha sem preconceito nenhum,ou seja essas coisas a gente aprende em casa,não somente, mas é o principal grupo social q a criança convive.
    Então,eu acho q os pais desde cedo devem ensinar seus filhos a ajudar em casa, aprender a se organizar etc, para q eles possam ter uma visão melhor a respeito desses assuntos no futuro.

    Professora foi um prazer participar do seu blog,gostei muito.Desculpe os erros ai bjos

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  2. Marcia Adriana disse...Gracilene Obrigada por seu comentário e estimulo para continuarmos a escrever e partilhar o nosso conhecimento!! E, Fernanda, foi MARAVILHOSA A SUA FALA!!! É fantástico percebermos que as sementes plantadas começam a frutificar!! Muito Obrigada a vocês duas!! BOA LEITURA!!! PAZ E BEM!!

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  3. Olá, professora Márcia!

    Que grande prazer descobrir o seu blog, recanto de ideias, reflexões e, sem dúvida, muito amor. Quanto ao debate promovido pelo gênero, é sempre um espaço para grandes questões ou, como diria minha avó, ''dá pano às mangas''. :)

    Como experiência pessoal, gostaria de mencionar o que escutei uma vez de um senhor, quando estava em uma livraria da cidade. Na época, eu procurava por um livro de Camus e estava comentando com o vendedor minhas impressões sobre a obra (A Peste) quando o tal senhor mencionado se aproximou e falou: "Você não vai ser uma boa dona de casa, uma mãe de família dedicada. Minha filha, eu vou te dar um conselho: homem não gosta de mulher inteligente, mulher que fica lendo livro de homem. Procure algo que vá te ajudar nas suas prendas".

    Para mim, que fui criada em um lar tradicional mas que valoriza o conhecimento e a cultura, foi um choque. Mas agora, lendo o seu texto, posso refletir sobre isso de maneira mais consciente e, de certa forma, ter até uma certa "compaixão" pela ignorância do homem.

    Mara Vanessa

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  4. Marcia Adriana disse... Mara, obrigada pela partilha que trás reflexões e aprendizados continuos!! Obrigada!!

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