Olhares sócio-antropológicos sobre Filmes, textos, artigos, livros, documentários,..

Amo cinema e vejo nos filmes inúmeras oportunidades de refletirmos sobre a vida, sobre temas diversos que nos tocam de maneiras diferentes, a partir de nossas grades de leitura e nossas vivências.
Assim, faremos neste primeiro momento reflexões sobre filmes, documentários que assisti e partilhei com meus colegas de sala (educandos) e outros que assisti em momentos de lazer criativo e produtivo. E, em um segundo momento farei comentários de livros, textos, artigos, enfim, o que li e como apreendi o lido, e os frutos de minha vivência, do meu dia-a-dia, do meu vivido também. Tudo isto será partilhado aqui com cada um de vocês!!

Boa Leitura!!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Intimidade ou não intimidade: o que desejo ter?

Foto: Marcia Adriana
      Já no século XVIII, conforme Louis Dumont, as pessoas começaram a ficar cada vez mais ensimesmadas, retraídas, preferindo a não intimidade, posto que o que desejavam era tudo cada vez mais para si. Um egoísmo exacerbado denominado individualismo. 
        Individualismo que separa as pessoas, colocando-as para se relacionarem não como pessoas, mas como pessoas e objetos. Coisificar o outro, ver o outro como mero objeto de prazer momentâneo ou duradouro, mas apenas prazer... Fez com que estas mesmas pessoas jamais se deleitassem com o prazer da intimidade.
    Séculos XIX e XX vem com duas abordagens o do não a intimidade, e o da transformação desta no olhar de Anthony Giddens, que chama cada uma das pessoas a repensarem suas relações, e, ao mesmo tempo compreender as mudanças na intimidade, no amor, na sexualidade, no erotismo.
      Giddens diz, no seu livro 'A transformação da intimidade. Sexualidade, amor e erotismo nas sociedades contemporâneas', que existe uma categoria chamada de 'relacionamento puro'; sendo que pureza aqui não significa ingenuidade, inocência, mas sim o retirarmos as amarras dos estereótipos acerca do ser amado como deus, ou deusa, como super herói ou mulher maravilha, e começarem a ver um ao outro como são, ou estão se tornando, seres humanos plenos com qualidades e defeitos. 
         O olhar o outro como ser humano pleno, dar mais segurança, conforto a ambos por saberem que não precisam mascarar o que não são e, por isso, irão se permitir amar e ser amado, de maneira tranquila, sem medos, receios de mostrar-se e ser rejeitado ou rejeitada.
         É interessante falar sobre a temática em questão, porque com o século XX e XXI, veio toda a enfase na contemporaneidade, na rapidez, na não-intimidade, na fluidez das emoções, na volatilidade dos sentimentos, enfim, na liquidez das relações. Bauman, foi um dos autores que mergulhando neste universo líquido escreveu a Modernidade líquida, o Medo liquido, o Amor liquido, o tempo liquido, enfim... Um retrato das relações que enfatizam a não intimidade.
           Contudo, o pensar no relacionamento puro, em que o casal caminhará lado a lado, partilhando  suas vidas, sonhos, tristezas e alegrias trás esperanças de que em um mundo tão grande como o nosso, ainda existem pessoas que desejam se envolver, sair juntas, conversar, trocar idéias, partilhar conquistas e se terem apoio mútuo  nas dificuldades, enfim, pessoas que queiram a intimidade, queiram permitir-se viver plenamente um relacionamento, colhendo frutos magníficos que será e que é o poder chamar cada um ao outro de companheiro, companheira, amigo, amiga, amor, tudo!! Tudo!!! Como já disse Fernando Pessoa: "Para ser inteiro, sê todo. Nada teu exagera ou exclui. Põe tudo o que tem no mínimo que fazes, assim em cada lago, a lua brilha, porque alta vive!!"
       Permitir-se e fazer com que dê certo o relacionamento, desejarem juntos que dê certo é MÁGICO!! Colocar-se de corpo e alma, plenamente!!! É um desafio grande, mas quem se arrisca, pode lograr êxito e conseguir um parceiro ou parceira que romperam, certamente, as barreiras do tempo e do espaço, ressaltando que a intimidade é um encontro de almas, expresso e manifesto no corpo, templo magnífico do seu Eu mais profundo, do que És!!
            E, então, resta apenas saber o que cada um quer de si: "Intimidade ou não intimidade, o que desejo ter? Eu desejo a intimidade. E você o que deseja, quer?" (Marcia Adriana L. de Oliveira)
                       

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O que é ser Pai e / ou Mãe?

Eu e meu filho
(Foto: arcevo pessoal)
 No universo sociológico ser pai e/ou mãe são status, ou seja, posições que você ocupa como membro de um dado grupo social, neste caso, o grupo social família. Tem-se família aqui como "laços de descendência por consanguinidade ou por afinidade" (OLIVEIRA, 2003; DURHAM ,1983; ABREU, 1982; ...), ou seja, não importa se seja ou não descendentes biológicos, podem ser adotivos, ou adotados por afinidade, todos são família.
           E, quando pensamos em pai/ mãe, geralmente, associamos estas posições as pessoas que os ocupam, ou seja, os genitores, os seres biológicos que com a ajuda de seu óvulo ou espermatozóide contribuiu para que as crianças viessem a este mundo. Contudo, cada posição possui um papel social, ou seja "um conjunto de expectativas acerca do que o indivíduo que ocupa a posição deve fazer". Logo, ao ocupar a posição de pai, o que é experado que quem a ocupe faça? E da de mãe? O que uma mãe deve fazer?
             Assim, pai, mãe e filhos são posições que vão sendo preenchidas conforme a cultura, ou seja, valores, crenças acerca do que cada pessoa ao ocupá-las fará... Porém, em decorrência da diversidade cultural, do fato de sermos mais que sujeitos sociais, mas sim indivíduos, com vivências, experiências, subjetividades... Cada um de nós irá dar o seu toque a interpretação aos papéis, acrescentando falas e outras expectativas que antes, não existiam, ampliando o papel.
                E, nestas ampliações do papel social correspondente ao ser pai ou mãe, tem-se que qualquer pessoa independente do sexo, pode na família, ora ocupar a posição do pai (prover, dar segurança, proteger), ora a da mãe (acolher, cuidar, proteger, dar as direções, ...) ou a do (a) filho (a) ( quer carinho, proteção, cuidados).
                Logo, pode-se dizer que na família estamos constantemente dialogando com as várias posições (mãe/ pai/ filho (a)). E, ao ocupá-las os papeis corresponentes devem ser desempenhados a contento. E, neste momento, percebe-se como é difícil ser pai, ser mãe e ser filho (a), envolto em "n" expectativas, acerca do que se deve fazer, do como se portar, ... Uma sobrecarga, as vezes enorme, principalmente para quem é mãe solteira ou pai solteiro (entenda-se que aqui entram todos aqueles que cuidam dos filhos, independente de serem estes pais biológicos ou adotivos ).
                  Deseja-se o melhor para o (a) filho (a), mas deve-se aprender a ouvi-los acerca deste melhor... Dialogar, conversar, observar, participar da vida, enfim, quantos ensinamentos e aprendizagens... E, na escola, observar o crescimento, as dificuldades, tentar sanar as dificuldades, intervir, conversar... Professoras que são apenas professoras co-repetidoras e não educadoras, que ao serem interpeladas acerca do que fazer para melhorar o aprendizado, sentem-se acuadas e terminam "marcando" os (as) filhos (as) que estão em processo de formação (Ensino Fundamental) e veem -se diante de um obstaculo que é maior que o físico, mas é psiquico, o readquirir a auto-estima, sentir-se capaz de realizar a atividade, convivendo com este tipo de exemplo de professor, que ao meu ver, deveria desistir da docencia, pois, realmente, não acrescenta e nem faz jus a profissão... E, nós pais, apreensivos, com uma sobrecarga de status (temos trabalho, casa, escola, filhos,....) aumenta a ansiedade, a preocupação, o nervosismo, que acaba mais dificultando que ajudando...
                       Rever posturas, valores, atitudes, enfim, rever a própria vida, é uma grande grande arte. A arte da humildade, frente ao fato de que ninguém nasce pai ou mãe, ou até mesmo filho (a), vamos aprendendo a ser num continuo processo do aprender, a cada etapa da vida.
                         E o que me encanta mais, apesar das angústias neste processo é o olhar para um ser,  antes pequeno, hoje maior que eu, antes aparentemente frágil, mas hoje, cresceu e cresce forte, e, vê-lo se aproximando, abrir um sorriso e dizer com todas as letras: "Mãe, eu te amo!!"Vamos conseguir vencer, crescer juntos!!" É isso aí!! Vencer juntos sempre!! Aprender, crescer, amadurecer, sofrer, ser feliz, conquistar, ser vitorioso nos propoósitos!!! Altos e baixos que chegam para sacudir a vida e nos fazer redimensionar quem somos, o que somos, o que queremos ser, e como faremos para chegar lá!! Eu quero ser, cada vez mais e mais, uma maravilhosa mãe e dar ao meu filho, como venho dando o meu melhor para que ele cresça em consciência emocional e intelectual, social!! É fácil? Como disse anteriormente, não é, mas vale a pena, pois, ser Pai / Mãe é, antes de tudo, doação, responsabilidade, ser duro quando é preciso, ser molinho nos momentos certos, sermos humanos, mostrarmos que somos seres que erramos e que acertamos, mas que ao errarmos reconhecemos nossos erros, nos desculpamos e modificamos, e amamos muito incondicionalmente a pessoa que nos proporciona ocuparmos esta posição privilegiada de Pai/ Mãe que são os (as) filhos (as).
Feliz dia dos PAIS!! DAS MÃES - PAIS!!! DOS AVÔS/ TIOS- AMIGOS!! PAIS- MÃES!!! DOS CUIDADORES!! DAS CUIDADORAS!! DA FAMÍLIA!!!
                                                                                                           (Marcia Adriana Lima de Oliveira)

Referência
OLIVEIRA, Marcia Adriana L. de. Separações e Divórcios: elementos que fazem parte da dinâmica familiar ou elementos de desestruturação desta? In: OLIVEIRA, Marcia Adriana L. Reflexões sobre a Sociologia Aplicada à Educação. Teresina-Pi: UAB/FUESPI/NEAD, 2012, pp.74-110.